Oi Pessoal
Já algum tempo que não escrevia nada, mas o trabalho tem apertado e o tempo de descanso não sei como mas encolheu quase ao limite mínimo. Hoje gostava de explicar-vos o que é ter um carro em Luanda.
Os carros por aqui são mais baratos do que em Portugal na ordem dos 30%, atenção que estamos a falar dos novos porque em relação aos de 2º mão penso que chegam a ser mais caros. Se estivermos a falar de Toyotas garanto-vos que são bastante mais caros do que em Portugal.
A adoração deste povo por carros Toyota tem varias razões de peso:
- Existem peças para toyotas até nas farmácias.
- São de uma resistência absolutamente incrível, que não é explicável em palavra mas sim em anos, existem Toyotas com mais de 20 anos a rodar e bem nas estradas (!!!!!!!!) de Angola.
- Em cada 10 carros 7 são Toyotas.
Por alguma razão que ninguém ainda me conseguiu explicar, os angolanos gostam de circular com os autocolantes de importação colados nos vidros e não pensem que são pequenos estamos a falar de folhas A4.
Em 1º lugar temos que tratar da segurança dos acessórios de segurança do seu veículo ou seja:
- Os piscas laterais têm de levar uma fita em chapa com rebites em cima e em baixo, conforme foto.
- Os piscas frontais levam um tratamento parecido mas os rebites são interiores.
- Os farolins traseiros também levam o mesmo sistema de segurança dos piscas frontais.
- Os espelhos laterais normalmente levam uns aros metálicos que impedem que sejam removidos sem a desmontagem dos aros que levam uma boa meia hora a desmontar e com um berbequim a mão.
- As antenas dos rádios estão todas com cola nas roscas.
- Os vidros que não abrem levam peças em chapa rebitadas que impedem a desmontagem dos vidros.
-Nas rodas pelo menos uma das porcas é uma das especiais que só se desmonta com uma peça própria.
Após termos tratado segurança do carro vamos falar de combustível.
Apesar de estarmos num país produtor de petróleo isto não quer dizer que haja combustível com fartura, pelo contrário em Angola só existe uma refinaria pequena e por sinal bastante antiga pois ela ainda é da época do colonialismo.
È normal qualquer condutor passar duas horas nas filas de combustível da cidade de Luanda, não pensem que o problema é só em Luanda, fora de Luanda ainda é mais difícil pois não há combustível durante dias. Por exemplo no Soyo só costuma haver combustível uma vez por semana. Eu próprio já estive horas parado no Dondo a espera de gasóleo.
Tanto a gasolina como o gasóleo são de muito má qualidade principalmente no que respeita a agua pois a grande maioria dos postos têm tanque enterrados metálicos que já estão em muito mau estado e apresentam infiltrações varias.
É imprescindível a montagem de filtros separadores de água nos carros principalmente nos diesel, devido às bombas injectores que se apanham água partem, acreditem que uma oficina de reparação e afinação de bombas injectoras e injectores é um excelente negócio em Angola.
Falemos de manutenções
Em Angola os fabricantes recomendam ainda hoje revisões a cada 5000 km porquê?
- O pó está constantemente presente e é um pó tão fino que entra para todo lado, garanto-vos que um filtro de ar ao fim de 1000Km em Angola está em pior estado do que o mesmo filtro ao fim de 10.000km em Portugal.
- O óleo normalmente utilizado fora do circuito oficial é de muito má qualidade é normal abrir-se um motor e ele estar cheio de lamas, estas são criadas pelos lubrificantes de má qualidade.
- As estradas onde estes veículos circulam são um desafio para qualquer fabricante automóvel, buracos é uma coisa normal nas alcatroadas mas não nos esqueçamos que 95% das estradas desta Angola são picadas em terra, lama, pedras ou areia onde os buracos têm normalmente o nome de crateras.
Condução
Cheguei ao capítulo em que não sei por onde começar. Um angolano ao volante transforma-se numa criatura egoísta, oportunista, inventiva e anarquista. Para eles código da estrada não existe a não ser que:
- Quem tem prioridade seja ele.
- Que o lugar onde estacionaram seja legal. mesmo que o carro esteja parado no meio da estrada
- Que para circular exista a estrada, a berma, o passeio, o quintal de cada um desde que a porta esteja aberta e inclusivamente a linha do comboio.
- E principalmente que exista no código uma clausula especial em que o sentido de circulação seja alterado segundo as suas necessidades.
- Passadeiras são sinais de trânsito horizontais criados para os veículos motorizados acelerarem.
- O peão neste país tem o maior direito de todos, o de ser atropelado tanto nas estradas como nos passeios e principalmente nas passadeiras.
- Falta a excentricidade máxima do código deste país reparem, AS MOTAS NÃO SÃO VEICULOS E O CODIGO NÃO SE APLICA senão vamos ver, num cruzamento com polícia sinaleiro (sim em Angola ainda há policias sinaleiros na maioria dos cruzamentos) as motas não param, as motas podem andar nos passeios, não existem sentidos proibidos para motas e a grande maioria das motas não tem matricula.
Seguros
Pode acontecer se perguntar a um angolano pelo seguro ele responda o que é isso. Neste momento e segundo o código da estrada actual de Angola o seguro contra terceiros não é obrigatório. Logo se tiver um acidente em que não seja culpado o melhor que pode ouvir é que cada um paga o seu. Caso seja culpado e tiver o azar de ser Pula pode começar a preparar-se para uma discussão de várias horas e ter de pagar os arranjos do carro os ditos dias de trabalho que o pobre do angolano perdeu e com algum azar ainda paga a mulher e a sogra do sortudo dono do carro sinistrado que por sinal tinha trinta anos e valia 100 dólares.
Tentei dar-vos uma visão do que é ter carro por aqui mas esta ultima que vos vou contar ultrapassa tudo quanto já leram.
Um colega nosso hoje foi preso por dar uma gasosa a um polícia, isto de ser preso por corrupção no país da corrupção não é para todos.
Um Abraço
Portem-se
Xau
WORLI | Sugee Sea Krest | 40fl | 170m | U/C
Há 24 minutos
1 comentário:
boas..
Achei muito realista a tua descrição de Luanda...não pederia concordar mais..
Mas tendo em conta as dificulades que encontras..
SEMPRE PODES VOLTAR PARA PORTUGAL
Um abraço
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