terça-feira, 28 de outubro de 2008

Os Muceques



Os Muceques são a versão africana das favelas Sul americanas.
Como qualquer versão, ainda são piores do que as originais não só a nível de segurança como a nível de limpeza. Qualquer Muceque de Luanda tem mais de uma centena de hectares.
As casas são invariavelmente construídas em blocos de cimento que são fabricados no próprio no local, com um molde.
Algum tempo antes o proprietário começa a fabricar os blocos necessários para a construção da Mansão, normalmente será rectangular, vigas e pilares será coisa que não lhe fará falta. Quanto a telhado rapidamente o mesmo será montado pois só duas hipóteses se põem chapa zinco ou fibrocimento a fixação é sempre feita com os restos da construção ou seja os bocados de blocos que sobraram, pedras e outros objectos pesados que o afortunado proprietário possa arranjar.
Por dentro a terra é batida e nivelada até parecer quase cimento.
Apesar disto muitas destas casas tem uma antena satélite pendurada na parede e um pequeno gerador como não podia deixar de ser.
Dentro dos muceques existe de tudo, com negócios montados e instituições oficiais que vão desde, esquadras da polícia, centros de saúde, escolas, cabeleireiros, restaurantes, vendas e até agentes da Unitel (rede de telemóveis).

Mas não podemos pensar que tudo é mau, como sempre acontece, no meu da confusão encontramos pequenos oásis, com pessoas impecáveis como foi o nosso caso que no meio do muceque da Cidadela, encontramos uma oficina de um português, onde nos foi servido um cozido a portuguesa, acompanhado por um bom vinho tinto que nos fez pensar que estávamos em Portugal, cavaqueando com amigos de longa data.
Nestes locais continua-se a encontrar a tradicional hospitalidade dos portugueses que habitaram estas paragens a uma geração atrás.
Mas sou sincero é me difícil compreender como é possível viver naqueles lugares e naquelas condições, principalmente numa região onde na sua época é capaz de chover em meia hora mais de 300mm de chuva tornando todas aquelas “ruas” em verdadeiros atoleiros.

Fui Surpreendido

Este fim-de-semana vi uma coisa que me impressionou bastante, ao ponto de ter melhorado bastante a minha opinião sobre quem manda em Angola a 30 anos.
Fomos visitar a fortaleza de Luanda e qual foi o meu espanto quando descobri a maioria das estátuas que decoravam Luanda no tempo colonial.
Ouve o cuidado de preservar grande parte delas e guarda-las no museu mais ou menos militar de Angola.
Existe um bom espólio de estátuas que vão desde estátuas em bronze até marcos em pedra.

Até as conhecidas figuras da história Portuguesa.
Alem destas estátuas encontramos no passeio que circunda a fortaleza um candeeiro com uma data interessante.
Bom para terminar, tratando-se de um museu militar têm vários artefactos militares em exposição, não se vêem mais porque a fortaleza está em obras de restauro.

Parque Automóvel

Olá, hoje vou vos falar do parque automóvel de Luanda.
Um amante de todo o terreno quando chega a Luanda, pouco falta para perguntar se está no paraíso, pois em pouco tempo vê passar por ele todos os ícones do todo terreno mundial.
Num só dia temos hipótese de ver Hummers de todas as cores que se produzem. Mas não só.
A grande maioria dos jipes para variar são Toyota, mas não tenho duvidas em dizer que todos os modelos que a Toyota produz estão em Angola sejam eles para a Europa ou América.
Mas também se vê, Nissan, Mitsubishi, Isuzus, Lexus, Hondas, Chevrolet tanto (Daewo) como americanos, Dodge, Plymouth, Ford, ZZ Nissan ( montados em Angola),Chineses uma grande variedade de marcas ( que eu ainda não conheço), Hyunday, Daihatsu, Volkswagen, Porsche, BMW, Volvo, Mercedes, Cadillac, UMM (sim, ainda se vêem), Suzuki e para minha surpresa pouquíssimos Land Rover.
Não pensem que vão ver um grupo de jipes mal tratados, pois enganam-se, muitos deles estão carregados de extras, desde jantes cromadas de dimensões fantásticas, até aparelhagens de som que nenhum de nós tem em casa.
No entanto estamos a falar de jipes de cidade, quando falamos de jipes para o mato normalmente só usam duas marcas e dois modelos:
- Toyota Land Cruiser Gx com um motor turbo diesel 3500 cm3, dois depósitos de 90 litros, dois pneus sobressalentes, armação no tejadilho, jerrycans, corta mato, guincho e uma bateria de luzes .
- Nissan Patrol GR com um motor turbo diesel de 4200 cm3, dois depósitos de 90 litros, dois pneus sobressalentes, armação no tejadilho, jerrycans, corta mato, guincho e uma bateria de luzes.
Estes são os reis do mato.
Como repararam não falei dos não jipes, no entanto não pensem que os não há. Penso que a maioria dos Toyota vendidos em segunda mão na Europa e na África do Sul vêem parar a Angola. Eles enxameiam a cidade.
No meio do trânsito pode-se ver o inesperado, por exemplo: Mercedes C65 AMG, Audi A8, Jaguar, Audi TT, BMW serie 7, Chrysler Cross Fire e por fim, um dia ao anoitecer, deparo com um Hummer limousine branco com mais de 10 metros de comprido parecia um comboio.
Não tenham duvidas que esta, é uma cidade, onde o inesperado vos espera a cada esquina.

A Gasosa

Infelizmente Luanda não é só a cidade bonita que eu vou conhecendo dia a dia, também existe uma Luanda negra que todos nós gostaríamos de esquecer, mas que está tão presente no dia-a-dia como qualquer outra, a este cancro eu vou chamar ” a gasosa “.
A corrupção da polícia é um dos maiores problemas que encontramos em Luanda. A qualquer momento podemos ser parados pela polícia de trânsito, para nos passar uma multa por uma razão normalmente difícil de entender. O que há normalmente a fazer, se não queremos ficar sem carta, será perguntar se ele não quer resolver aquilo de outra maneira. Eu sinto-me envergonhado por isto, mas se ficamos sem carta, para a reavermos dá muito trabalho e muitas vezes nunca mais aparecem, por isso o sistema da Gasosa vai prevalecendo.
Há uma manobra que é quase sempre proibida haja sinais ou não “ normalmente temos a resposta que se não está já lá esteve” que é virar á esquerda. Quando aqui estiverem evitem sempre virar á esquerda pois normalmente está sempre um polícia a espera para ganhar a gasosa.
O valor das multas aqui é bastante elevado, sendo as mais pequenas na ordem dos 5000.00 Kz. Por exemplo estacionar o carro em cima do passeio é a módica quantia de 14.000.00 Kz.
Não pensem que este é um fenómeno exclusivo de Luanda quando passamos a ponte na barra do kuanza junto às portagens está invariavelmente uma brigada que normalmente nem os documentos pede tendo a lata de dizer que querem é a “ Gasosa”.

As Rapidinhas

Não tenham pensamentos menos dignos as rapidinhas são as scooters que circulam por toda Luanda e quando digo toda sei o que estou a dizer pois elas passam por todo lado, ruas, passeios, jardins, rotundas, escadas, etc… tudo serve como pista.
Elas andam no meio do trânsito que como já sabem é caótico a uma velocidade que quase não dá para acreditar, fazem autênticas gincanas no meio do trânsito utilizando todos os métodos possíveis e imaginários para passarem.
Para estes free riders não existe sentido nas ruas, pois eles podem aparecer em qualquer sentido em qualquer lado.
Capacete é um objecto que para eles pode ter muitas interpretações, passo a vos dizer algumas delas: Cap, Capacete de hipismo, Capacete militar, capacete de bicicleta, lenço de cabeça, chapéu de palha, gorro, mas de longe a mais comum vai para o capacete invisível de excelente qualidade e fabrico angolano.
As scooters são de todo o tipo mas as mais comuns são as scooters pequenas aquelas que mais ou menos à dez anos atrás rodavam em Portugal com rodas fininhas, no entanto há as de todo o tipo e de todas as marcas com preponderância as de marcas chinesas.
A que ter algum cuidado com estes riders por que muitos dos assaltos na via publica são realizados por eles. Recomendo especial cuidado a atravessar ruas onde o transito esteja parado, pois do meio dos carros pode sempre aparecer uma rapidinha a grande velocidade.
E pronto aqui fica mais uma curiosidade desta Luanda que estou a aprender a gostar.

CANDONGUEIRO

Uma das características principais do caótico trânsito é o fantástico irreverente e indisciplinado CANDONGUEIRO.
Eles são uma peça fundamental do transporte público de Luanda.
Quem não viveu esta realidade não tem hipótese de compreender a abrangência de serviços fornecidos pelo táxi do candongueiro.
O táxi do candongueiro é composto por uma carrinha, 95% delas Toyota Hiace importadas usadas, ninguém na Europa imagina o que estas carrinhas suportam, praticamente todas elas já rodaram 200.000 ou 300.000 Km na Europa e vêm acabar a sua vida a Luanda carregando 14 passageiros mais o condutor com carta de competição/todo o terreno e ainda o personagem mais carismático deste processo o cobrador angariador que para não ocupar um lugar da carrinha vai normalmente sentado na janela da porta de correr com o rabo de fora.
Todas estas carrinhas estão pintadas de azul de branco como podem ver nas fotos, no trânsito são como uma alcateia que tudo rodeiam e tudo devoram, não há nenhuma lei que os tire da sua ideia de rodar o mais depressa possível num trânsito completamente parado. Todas as manhãs transportam metade da população de Luanda dos muceques para o centro e vice-versa ao fim do dia, ou seja são capazes de transportar perto de 500.000 pessoas nos dois sentidos por dia.
Por incrível que pareça, grande parte das carrinhas têm bom aspecto exterior e praticamente todas tem jantes cromadas. No interior uma aparelhagem que dava para uma discoteca e um conjunto de bancos em que a parte do estofo foi cortada de modo a poder ser amovível (tiram lhe a fora posterior e os cantos superiores ficando em cima como que um gancho que prende na estrutura metálica). A maioria tem a janela traseira pintada com o nome por que é conhecido em letras Brancas por exemplo Fantástico, Migosta, Racing, Nganza, etc…
Mas sem sombra de dúvida que o personagem é o cobrador angariador ele tem varias tarefas: angariar clientes, gritar os muceques por iriam passar e cobrar os bilhetes. Nas paragens mais concorridas eles estão na rua angariando clientes até encherem a carrinha (14 Passageiros três bancos com 4 passageiros cada e mais dois junto ao condutor) quando começa a viagem com a lotação completa ele lá vai naquela posição caricata todo dobrado sentado na janela aberta com o dito cujo do lado de fora.
Para compreenderem todo este processo e terem uma ideia da grandeza do mesmo vão ao Google Earth e tentem percorrer algumas das ruas de Luanda e irão verificar que praticamente metade dos carros que vêem são carrinhas azul e brancas.
Ninguém fica indiferente a estes predadores de trânsito que na realidade fazem esta cidade funcionar trazendo a classe trabalhadora que vive nos muceques que rodeia a cidade.

A Cidade dos Geradores

Esta é uma cidade que depende dos geradores para funcionar. Não há um apartamento, uma casa ou uma empresa que não tenha um gerador montado, já para não falar dos edifícios de escritório, hotéis, hospitais, etc… que têm três e quatro geradores que podem ligar em simultâneo para suportar toda a carga do edifício.
É impressionante quantas vezes os geradores arrancam por dia, constantemente se não é um corte é uma oscilação de tensão que os faz arrancar.
Pouco mais para a periferia de Luanda muitas das casas, empresas e fábricas funcionam integralmente a geradores.
Existem de todas as marcas e proveniência desde europeus, americanos, chineses, coreanos e de muitos outros países.
Toda a logística de fornecimento de combustível, contratos de manutenção e reparação dão trabalho a muita gente nesta cidade.
Quando se começas uma obra de construção civil, mesmo que seja no centro da cidade a primeira acção será montar os geradores para a obra.
É assim que vive Luanda.

domingo, 26 de outubro de 2008

As ruas de Luanda são o maior centro comercial do mundo


As ruas de Luanda são o maior centro comercial do mundo. Na rua há vendedores que vendem tudo desde a mais simples mercadoria por exemplo lenços de papel até uma mobília de quarto que está montada no passeio.
Em cada cruzamento existe uma concentração de vendedores que correm as filas de trânsito vendendo a sua mercadoria. As mais habituais são as latas de bebida dentro de uns sacos de plástico transparentes estreitos e fundos, cheios de latas de refrigerantes com bocados de gelo, os jornais, cd’s e DVD’s, cadeados e todo o tipo de pequenos e por vezes não tão pequenos artigos, por exemplo na Ho-Chi-Min costuma estar um vendedor especializado em espelhos de casa de banho que como devem imaginar não é o artigo mais fácil de vender no meio do trânsito caótico de Luanda.
A cidade tem zonas mais ou menos definidas para cada tipo de produtos. Por exemplo no cruzamento junto ao Hotel Alvalade é a zona das flores, um pouco mais a baixo é zona das mobílias podes encontrar desde móveis de cozinha até conjuntos completos de quarto ou sala passando pelos cabides de pé bengaleiros, etc…
Mas sem duvida que o vendedor mais evoluído costume ter o seu local de venda no inicio da Van Dunem e a sua especialidade é a venda por catalogo. Ele especializou-se em sofás e moveis de sala, assim ele anda pelo transito com o seu catalogo de fotografias de sofás os quais são escolhidos pelos clientes e no dia seguinte entregue no domicilio com uma precisão digna da Europa.

Olá pessoal



Cheguei a esta cidade de Luanda a 22-09-2008 logo pela manhã tempo para variar era calor e céu cinzento.
Para minha surpresa no aeroporto tudo correu sem problemas, nem demasiadas demoras, em pouco mais de meia hora estava na rua para enfrentar o trânsito pela primeira vez.
No parque de estacionamento aguardava-me o transporte da empresa que demorou somente 2 horas para nos levar até a sede que fica mais ou menos a 5 a 6 Km do aeroporto, estava pouco trânsito foi o comentário do motorista. Fiquei preocupado parecia-me impossível viver nesse transito.
Foi um longo dia pois não me descalçava desde as 07.00 de 21-09 em Mem Martins e só o fiz às 23.00 de 22-09 no hotel Alvalade.
Não vinha a Luanda à 21 anos.
Vou manter o blog actualizado com fotos e comentários das várias viagens de fim-de-semana que vamos fazer nesta Angola a dois tempos, se por um lado encontramos a cada virar da esquina sinais das mais recentes tecnologias olhamos para outros e quase antevemos a Angola tribal.